Orgulho de ser negro
Simone Costa
Dizem por aí que sou mulato, moreninho, escurinho, de cor... Não. Eu sou negro. Lamento quando pessoas negras têm vergonha de se aceitarem negras e se dizem “pardas”. Qual a diferença? O azul pode ser claro, escuro, celeste, turquesa, mas é sempre azul. Da mesma forma, o negro. Não importa o tom da pele, mas o sangue que corre nas veias... negro! Sangue de gente que foi arrancada de sua terra, de sua família, de seus amigos, de seus amores e trazida para um lugar totalmente novo, desconhecido, hostil. Sangue de gente que trabalhou obrigada, amarrada, acorrentada, forçada e deu sangue, sim, literalmente o sangue neste Brasil. Sangue de quem foi humilhado, maltratado, perseguido, acuado. Sangue negro. Sangue.
Assim como o azul do céu tem sua beleza, o verde das folhas ainda mais e o amarelo do sol seu brilho intenso, como negro (sim, negro), tenho valor. Minhas mãos, na pele de bisavôs e tataravôs, cultivaram a terra, ergueram construções, lavraram fazendas, cozinharam em várias casas, venderam mercadorias, embalaram crianças, esfolaram-se em moendas... Há do que se envergonhar? Há de se envergonhar do trabalho? Sou negro.
Difícil acreditar que muitos, hoje, só conhecem jogadores e cantores negros. O que dizer do considerado maior escritor brasileiro, Machado de Assis, o mulato que, na verdade, era negro? E do grande poeta simbolista Cruz e Souza? Do grande escultor e arquiteto que marcou Minas com sua arte barroca, Aleijadinho? Do guerreiro Zumbi dos Palmares? Dos atores, considerados mestres, Grande Otelo, Zezé Mota e Milton Gonçalves? Daiane dos Santos não ganhou fama mundial com seu “duplo twist carpado”? Kofi Annan, africano e Prêmio Nobel da Paz em 2001, não foi secretário-geral da Organização das Nações Unidas? E Condoleezza Rice, quando Conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos, não foi considerada a mulher mais poderosa do mundo?
Sim, sou negro, e com muito orgulho. Negro.
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