quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Texto "Orgulho de ser negro"

Orgulho de ser negro
Simone Costa

Dizem por aí que sou mulato, moreninho, escurinho, de cor... Não. Eu sou negro. Lamento quando pessoas negras têm vergonha de se aceitarem negras e se dizem “pardas”. Qual a diferença? O azul pode ser claro, escuro, celeste, turquesa, mas é sempre azul. Da mesma forma, o negro. Não importa o tom da pele, mas o sangue que corre nas veias... negro! Sangue de gente que foi arrancada de sua terra, de sua família, de seus amigos, de seus amores e trazida para um lugar totalmente novo, desconhecido, hostil. Sangue de gente que trabalhou obrigada, amarrada, acorrentada, forçada e deu sangue, sim, literalmente o sangue neste Brasil. Sangue de quem foi humilhado, maltratado, perseguido, acuado. Sangue negro. Sangue.

Assim como o azul do céu tem sua beleza, o verde das folhas ainda mais e o amarelo do sol seu brilho intenso, como negro (sim, negro), tenho valor. Minhas mãos, na pele de bisavôs e tataravôs, cultivaram a terra, ergueram construções, lavraram fazendas, cozinharam em várias casas, venderam mercadorias, embalaram crianças, esfolaram-se em moendas... Há do que se envergonhar? Há de se envergonhar do trabalho? Sou negro.

Difícil acreditar que muitos, hoje, só conhecem jogadores e cantores negros. O que dizer do considerado maior escritor brasileiro, Machado de Assis, o mulato que, na verdade, era negro? E do grande poeta simbolista Cruz e Souza? Do grande escultor e arquiteto que marcou Minas com sua arte barroca, Aleijadinho? Do guerreiro Zumbi dos Palmares? Dos atores, considerados mestres, Grande Otelo, Zezé Mota e Milton Gonçalves? Daiane dos Santos não ganhou fama mundial com seu “duplo twist carpado”? Kofi Annan, africano e Prêmio Nobel da Paz em 2001, não foi secretário-geral da Organização das Nações Unidas? E Condoleezza Rice, quando Conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos, não foi considerada a mulher mais poderosa do mundo?

Sim, sou negro, e com muito orgulho. Negro.


Permitida a reprodução desde que citada autoria e fonte.

3 comentários:

  1. Texto Fantástico. Ser Negro vai além da cor, ou está bem antes da qualificação de etnias. Bom, ser Negro é ser gente, e muito gente. Porque o caráter não está na cor, nem na proporção dela. Mas sim, na intensidade do que possa significar ser gente! Ser humano. Na verdade, tudo o que existe, em minha humilde opinião é a raça humana... Quem a divide em cores, são os olhos preconceituosos, limitados e absolutamente ignorantes, no sentido de valores. Ser Negro, Branco, Índio... Ser humano, é fundamental! Parabéns, Simone! Parabéns!

    ResponderExcluir