quarta-feira, 22 de junho de 2016

Nós só queremos ensinar...

Muito se fala sobre a Educação do país. Muito se questiona a respeito dos professores: "São maus preparados", "Faltam demais", "Não sabem ensinar", "Não têm didática"... Pouco se fala sobre a sala de aula.
A cada dia, temos que lidar com cerca de quarenta alunos e, acreditem, "dar uma aula" que interesse e agrade a todos. Com giz, lousa, garganta; às vezes uma sala de Informática, às vezes uma sala de vídeo, apostilas, projetos interdisciplinares, alguns livros e muita boa vontade, tentamos. Porém, não é fácil; ou melhor, não está fácil. Sala de aula virou sinônimo de Playground e praça de shopping. Alunos acham ruim quando você lhes pede para sentarem-se na cadeira, e não na carteira; desligarem o celular, ou abaixarem o volume do mesmo; tirarem os pés de cima da mesa; abrirem o caderno; pegarem a apostila; fazerem a lição... Sim, é preciso pedir para que abram o caderno e façam a lição. E isso não ocorre somente com alunos do Ensino Fundamental, mas do Médio também. Caneta? "Pode ser vermelha?", "Esqueci", "Não tenho". Lápis? "Tem um pra me 'emprestá', professora?". Apontador? "Perdi", "Roubaram". Régua? "O que é isso?" Filme que ajude a compreender melhor o contexto? "Que droga, não é de terror?" Tênis. Muito bom, e caro. Celular? Muito mais avançado do que o meu. Enfim, onde está o problema? Como motivar quarenta? O que mais fazer para mostrar-lhes quão precioso é o conhecimento? Quanto mais investir neles? Cadê a família, que não vê cadernos em branco e incompletos, mas sabem questionar: "Por que a sra. deu nota vermelha pro meu filho? A sra. exige demais..." E a vida, não exige?

Com os olhos fixos no celular, conversando, brincando ou olhando o movimento na quadra ou no pátio, muitos mal respondem à chamada, mal fazem as tarefas, mal anotam os trabalhos. Detestam matemática, português, física, química, biologia, história, geografia, filosofia... Amam Educação Física, quando tem bola.
Nesse mundo completamente alheio à realidade que os cerca tão de perto (há pais desempregados ou que sofrem à procura de um emprego pela falta de escolarização) ainda sonham em ser psicólogos, médicos, advogados, engenheiros... Sonhos. Melhor do que desejar ser "piloto de fuga" ou traficante.